Mostra

A Mostra Amotara – Olhares das Mulheres Indígenas surgiu em 2018 com o objetivo de dar visibilidade à produção audiovisual de mulheres indígenas brasileiras e fortalecer mulheres, artistas, realizadoras de audiovisual, através da partilha de experiências com as cineastas indígenas. O nome Amotara é uma homenagem à anciã do povo Tupinambá de Olivença, Nivalda Almaral, uma liderança histórica que se encantou em 29 de abril de 2018.  

A segunda edição da Amotara surgiu com a proposta de realizar uma mostra itinerante em aldeias no sul e extremo sul da Bahia, no ano de 2020, dois anos depois da primeira edição. O evento, a princípio, ocorreria em quatro aldeias indígenas através de exibições de filmes seguidas de debates com a presença de cineastas indígenas e convidadas. Com a pandemia de COVID-19, o evento foi adaptado para ser realizado em formato virtual, o que possibilita também uma visibilidade ampliada das obras das cineastas indígenas, ao mesmo tempo que contará com articuladoras locais nas aldeias para que alcance as mulheres indígenas dos territórios da Bahia.

A iniciativa é uma idealização da produtora cultural Yawar e da jornalista Joana Brandão, produzida em parceria com a Universidade Federal do Sul da Bahia – UFSB, e é viabilizada por meio do Edital Setorial de Audiovisual, com apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda, Fundação Cultural do Estado da Bahia e Secretaria de Cultura da Bahia.

Histórico

A primeira edição da Amotara aconteceu de 30 de julho a 04 de agosto de 2018, através de um projeto de extensão da Universidade Federal do Sul da Bahia – UFSB, com atividades em diversas localidades do extremo sul baiano: nos campi Paulo Freire e Sosígenes Costa da UFSB (nas cidades de Teixeira de Freitas e Porto Seguro, respectivamente), na sede do Movimento Cultural Arte Manha e na Escola Polivalente, no município de Caravelas, no Centro Cultural de Porto Seguro e na Aldeia Jaqueira do povo Pataxó, região de Porto Seguro. 

O evento teve a presença de três cineastas indígenas: Olinda Muniz Wanderley, Graciela Guarani e Suely Maxakali, do cineasta Isael Maxakali, de jovens indígenas Pataxó da aldeia Cahy (Cumuruxatiba), realizadoras do canal de Youtube “Jovens Indígenas”, e de cineastas da aldeia Barra Velha, realizadoras do documentário “Força das Mulheres Pataxó de Barra Velha” (2018, 77’). 

Amotara, dona Nivalda Amaral

Nivalda Amaral foi pioneira na luta pela educação escolar indígena, semeando no território Tupinambá a resistência e a afirmação da identidade indígena do povo Tupinambá de Olivença.  Além de ter carregado a memória da história do povo tupinambá, Dona Nivalda inspirou a luta pela demarcação do território e o sonho de uma creche indígena.

Descendendo de uma linhagem de mulheres rezadeiras, Nivalda cresceu visitando as comunidades indígenas do sul da Bahia. Sua avó, Ester, era conhecida pelas comunidades na região como rezadeira e sua mãe, Valdelice, deu seguimento a este legado, levando sempre consigo a jovem Nivalda em suas peregrinações. Era o início do século XX e Valdelice realizava rezas que congregavam as tradições indígenas com a cultura africana e do colonizador branco. O povo indígena, espalhado pelo território, recebia através da visita de Valdelice as rezas de São Cosme de Damião, São Sebastião, Santo Antônio, Camponesas e Marujada. Nivalda, então adolescente, acompanha as rezas, percorrendo o território e visitando os parentes indígenas que habitavam o litoral sul da Bahia.

No início da década de 1980, Nivalda, já adulta e com família formada, passou a integrar a Pastoral da Criança. Então, as peregrinações de cunho espiritual e cultural que fez desde a infância foram o ponto de partida para o movimento de afirmação enquanto povo Tupinambá. Desta vez, Nivalda visitava as comunidades propondo as primeiras reuniões que levaram à luta pela terra, iniciando a história da reafirmação do povo Tupinambá de Olivença e reivindicação de seu território tradicional.

Dona Nivalda foi um exemplo de liderança feminina e de força das mulheres indígenas. Quando viajava pelas terras indígenas do sul da Bahia visitando as parentes, animava a comunidade com cantos e cuidava em especial das crianças e das mulheres, ajudando em caso de necessidade. A história do povo Tupinambá de Olivença era contada por ela, que lembrava os tempos da perseguição ao Caboclo Marcelino, símbolo da luta Tupinambá pelo território e reconhecimento da identidade deste povo.

Atualmente, a creche e a escola da aldeia Itapuã, em Olivença, município de Ilhéus – BA, carregam o nome Amotara, nome indígena de Nivalda, para manter viva a sua memória e o seu legado. Amotara significa: “querer bem a todos”, em Tupi, língua originária do povo Tupinambá.

*Por Joana Brandão Tavares, com informações da cacica Valdelice Tupinambá, filha de Dona Nivalda, e Potyra Tê Tupinambá.